Grau I - A Equanimidade e o Exercício de Observação

O primeiro exercício prático do livro de Franz Bardon é  confuso para muitas pessoas que nunca meditaram ou que sempre viveram no automático: como observar os próprios pensamentos se os pensamentos são eu? Após algum tempo de prática compreendemos que não somos os pensamentos e que muitos deles não são nossos. E se aplicarmos o exercício de observação, não apenas aos 10 minutos matutinos e noturnos, e sim a todo instante possível, desenvolveremos o que no Budismo é conhecido como a prática da equanimidade: observar, sem envolver-nos mental e emocionalmente, com os acontecimentos exteriores e interiores, emocionais ou biológicos (desejo).

"Quando somos equânimes, não nos prendemos às experiências boas nem às ruins. Em vez disso, criamos um espaço em torno das experiências – um protetor entre nós e as sensações associadas a elas. Esse estado de ser não está baseado no controle pré-frontal padrão das emoções, em que há inibição e comando da atividade límbica. Na verdade, com equanimidade, o sistema límbico pode disparar como bem entender. A questão mais importante da equanimidade não é reduzir ou canalizar essa ativação, mas simplesmente não reagir a ela. Esse é um comportamento muito incomum para o cérebro, que é projetado pela evolução para responder a sinais límbicos, em particular a vibrações de sensações prazerosas e desagradáveis (HANSON, Rick: O Cérebro de Buda. São Paulo: Alaúde, 2012)."

"Com equanimidade, a pessoa enxerga a natureza transitória e imperfeita da experiência, e seu objetivo é permanecer desencantada – livre dos encantamentos lançados pelo prazer e pela dor. Nesse sentido um tanto budista da palavra “desencantado”, a pessoa não está desapontada ou insatisfeita com a vida – ela simplesmente não é iludida por seus aparentes encantos e sobressaltos nem tirada de seu centro por nenhum deles (HANSON, Rick: O Cérebro de Buda. São Paulo: Alaúde, 2012)."

"A equanimidade envolve também permanecer consciente da corrente que passa sem se deixar levar por ela. Isso exige supervisão do cingulado anterior, especialmente nos estágios iniciais de equanimidade. Conforme esta se aprofunda, segundo meditadores, a continuidade do estado de atenção plena ocorre sem esforço¹, o que, presumivelmente, se relaciona com a atividade reduzida do CCA e a estabilidade auto-organizadora nos substratos neurais da consciência (HANSON, Rick: O Cérebro de Buda. São Paulo: Alaúde, 2012)."

1. O exercício de observação desenvolve naturalmente a concentração. Não é a toa que o segundo exercício do livro Magia Prática é o exercício de concentração. Coincidência? Acredito que não.

"Outro aspecto da equanimidade é um espaço de trabalho global da consciência excepcionalmente vasto (Baars 1997), o complemento neural do senso mental de grande amplidão em torno de objetos da consciência. Isso é possibilitado pela estável e extensa sincronização de ondas gama de bilhões de neurônios por grandes áreas do cérebro, disparando juntos, ritmadamente, de trinta a oitenta vezes por segundo. O interessante é que esse padrão atípico de ondas cerebrais é observado em monges tibetanos com muita prática em meditação – e muita equanimidade (Lutz et al. 2004)."

"Com o passar do tempo, a equanimidade alcança uma paz interna profunda, característica determinante da absorção contemplativa (Brahm 2006). Além disso, torna-se cada vez mais entrelaçada com a vida cotidiana, produzindo ótimos benefícios. Se alguém é capaz de quebrar a ligação entre as sensações e o desejo incontrolável – se pode conviver com o que é prazeroso sem correr atrás dele, com o desagradável sem resistir a ele e com o neutro sem ignorá-lo –, é sinal de que quebrou a cadeia do sofrimento, pelo menos por um tempo. E isso é não só uma bênção como uma liberdade fantástica (HANSON, Rick: O Cérebro de Buda. São Paulo: Alaúde, 2012)."

A mestre budista Kamala Masters conta a história da descida do rio Ganges de barco durante o amanhecer. À sua esquerda, o sol iluminava torres e templos antigos com um primoroso brilho róseo. À sua direita, piras funerárias queimavam, e os sons dos lamentos subiam com a fumaça. De um lado, beleza; do outro, morte, e a equanimidade abria o coração dela o suficiente para abraçar ambos.

Nem Luz
Nem Trevas
Apenas
O Equilíbrio
L.A.



"... O homem que não se deixa mais atormentar por essas coisas, - que se conserva firme e inabalável no meio do prazer e da dor, - que possui a verdadeira igualdade de ânimo: esse, creiam-me, entrou no caminho que conduz à imortalidade..." - Bhagavad-Gita.


Boas práticas!

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