Grau I - O Poder da Concentração - Parte I

Por Pretice Mulford

O pensamento é uma substância como o ar ou qualquer outro dos elementos sensíveis que a química nos faz conhecer. A sua força tem graus numerosos e variados. Uma inteligência poderosa equivale a uma vontade firme. Algumas pessoas têm um espírito tão fraco, em confronto com o do magnetizador mais forte que não podem resistir. Outras, de espírito mais forte, podem submeter-se voluntariamente. Ninguém poderá, porém, assenhorear-se de vós se lhe resistirdes com o pensamento e se, no sentirdes que vos estão dominando chamardes em nosso auxílio uma potência superior.

Quando vamos dormir, o espírito por causa da sua fadiga do dia, difunde-se pelo espaço, abandonando o corpo, e, por isso, resta a este tão pouca força que cai no estado de transe chamado sono. E assim como o magnetizador faz sair o espírito do corpo do paciente, assim também o nosso espírito se retira do nosso corpo, cansado dos numerosos esforços efetuados durante o dia. O nosso corpo não é o Eu real. A força que move a nossa talante é o nosso espírito, que é um organismo invisível, totalmente distinto e separado do corpo. O nosso  espírito (o  Eu verdadeiro) serve-se do corpo , como o carpitenteiro se serve do seu martelo ou de uma ferramenta qualquer, para executar um trabalho.

É que o espírito está fatigado à noite. Acha-se exausto e, por consequência, já não pode servir-se do corpo com vigor. O corpo, em realidade, está sempre forte, como o martelo do carpinteiro, que tem a mesma força, ainda quando o braço esteja muito fraco para servir-se dele.

De noite, o espírito é fraco porque no correr do dia, as suas forças pensantes se irradiam em tantas direções diferentes que já não pode reuní-las. Todo pensamento é uma dessas forças, uma parte do vosso espírito. Todo pensamento, expresso ou não, apesar de ser invísvel, é uma coisa, uma substância tão real, como a água ou o metal. Qualquer pensamento, ainda que não expresso, é alguma coisa que vai à pessoa, à coisa ou no lugar para o qual é dirigido. O vosso espírito dirigiu-se, pois, no correr  do dia, a mil ou talvez a dez mil direções diferentes. E, ao pensar, agis. Todo pensamento representa emissão de forças. Projetando ou expandido assim as nosas forças, durante dezesseis ou dezoito horas consecutivas, à noite já não nos resta no corpo o suficiente para alimentá-lo. E é por isso que ele cai no estado de insensibilidade a que denominamos sono. Em tal estado, o espírito recolhe as suas forças dispersas, os seus pensamentos projetados longe; torna a entrar no corpo com suas forças assim concentradas e dele toma novamente posse. Suponde muitos regatos a correrem em diversas direções, reuní-os em um só e tereis a força que faz girar a roda do moinho.

Se pudésseis reconduzir imediatamente todo o vosso espírito ao seu centro e reunir as suas forças dispersas, tornar-vos-eis tão bem dispostos, apenas em tantos minutos quantas as horas que gastaríeis para repousar. Este segredo, conhecia-o Napoleão I, e era assim que se sustentava com pouquíssimo dormir, durante as suas campanhas, nas quais tinha necessidde de ter sempre à disposição o máximo das suas forças. 

É um poder este que todos podem adquirir com um certo exercício de descanso.

Trata-se, antes de mais nada, de pôr o corpo em um estado de repouso tão perfeito quanto possível, evitando todos os movimentos físicos involuntários, como o balancear de ombros, o bater dos pés, o tamborilar dos dedos, etc.

Todos esses movimentos involuntários malgastam-nos as forças e, o que é pior ainda, habituam o nosso inconsciente a destruí-las e desbaratá-las. A ação involuntária da inteligência, o extravio do espírito em todas as direções, encaminhando-se para pessoas, coisas, planos ou projetos, o dispêndio do mesmo, seja grande ou pequeno, há de ser também cuidadosamente mais completo repouso possível. A concentração do pensamento na palavra recolhimento ou ainda o imaginar que o vosso espírito, posto, por meio de uma espécie de filamentos elétricos, em relação com pessoas, lugares ou coisas mais distantes, é atraído para vós e concentrado num só ponto, é útil para realizar isso, portanto, aquilo que assim imaginais é uma realidade espiritual, Isto é, sois realmente um espírito e, por ação do espírito, sois aquilo que imaginais. Toda imagem e toda invenção vista claramente pelo espírito é de substância espiritual, mas de tanta realidade como um objeto de madeira ou ferro, ou de qualquer matéria, na qual mais tarde poderá ser personalizada e fazer-se visível aos olhos corporais, e cuja ação constitui realmente a base física da existência.

Se um indivíduo pensa ou imagina matar, naquele mesmo ponto lança no espaço um elemento homicida e deita fora uma ideia de morte tão real como se a deixasse impressa sobre um papel. O pensamento é absorvido pelos homens, e assim, essa ideia ou intenção de morte, ainda que invisível é absorvida por outras inteligências, que se sentem, desta maneira, inclinadas à violência e até mesmo ao assassínio. Se uma pessoa pensa continuamente na moléstica, lança fora de si os elementos de toda classe de doenças, se pensa na saúde, na força, na alegria, lança no espaço elementos de ideias de saúde e de força, que afetam aos outros como a si mesma. Um homem deita fora de si, em ideias precisamento aquilo que ele - ou por outra, o seu espírito - contém em maiores proporções, "Um homem é tal qual ele pensa ser": O nosso espírito não é mais do que um conjunto de ideias, de tal maneira que aquilo em que mais pensamos é o que constitui, em realidade, o nosso espírito. O que imaginamos, pois toma para nós aparências de realidade. As ideias e pensamentos que o nosso espírito lança no espaço num minuto apenas, com muita dificuldade as poderíamos escrever numa hora ou mais.

Se juntarmos todas as nossas forças espirituais,  teremos reunido e concentrado todo o nosso poder, o qual podemos desta maneira, dirigir sobre as coisas ou sobre o lugar que nos aprouver.

Quando os olhos e a inteligência são dirigidos a um mesmo objeto ou coisa, que excedem às nossas próprias energias, como, por exemplo, um ponto determinado na parede, as ideias positivas ou irradiações que nos ligam com o exterior são arrastadas para aquele centro comum. O fixarmos toda a nossa força espiritual numa só coisa nos aproxima dela, quer esteja perto quer esteja longe o ponto de contato. Antes deste efetuar-se, o espírito é como que uma mão aberta e com todos os dedos estendidos, quando a ideia se fixa, tendo desenvolvido toda a sua ação, o espírito vem a ser como um punho, completa e fortemente fechado.

Quando dirigimos o nosso pensamento para qualquer coisa exterior, emitimos força, e quando o concentramos num só objeto e, deste modo, o retemos e evitamos a sua divagação em todo momento, aumentamos as nossas forças.

Do nosso ser real emana, de contínuo, a cada pensamento, um raio sutil, à  guisa de centelha elétrica, que representa, igualmente, a nossa vida, força e vitalidade, e que atinge o objeto, lugar ou pessoa a quem vai diretamente dirigido, ache-se muito perto ou muito longe de nós.

O nosso espírito é a nosa força real e positiva. Quando erguemos um peso, pomos toda a nossa força no músculo que o levanta. Ao fazermos um esforço qualquer, pomos nele a maior parte da nossa força espiritual ou talvez toda. E se naquele momento uma parte apenas do nosso espírito toma outra direção, qualquer noisa nos assusta e importuna, é certo que uma parte da nossa força nos abandonará. Qualquer dessas diversões nos terá substituído uma parte da força que havíamos de pôr na elevação do aludido peso.

MULFORD, Pretice. Nossas Forças Mentais: Seu Uso e Aplicação na Vida Diária. Pensamento. São Paulo, 1960.

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