Problemas no Estudo da Magia, Parte I

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Por William Mistele
Tradução por Lucas Augusto

Este artigo se refere especificamente ao sistema de treinamento de Franz Bardon, mas possui algumas aplicações a outros sistemas. Estarei dissertando sobre o treinamento mágico real. Noto que muitas pessoas não estão lidando com a Magia real, elas estão “atuando magicamente”. Estão envolvidas em uma coisa social como “vamos fazer parte de uma organização, uma sociedade esotérica ou ordem” onde, na verdade, se divertem num recreio mágico, em vez de se engajarem numa disciplina vitalícia que gera encontros com poderes e profundos mistérios.
Não há nenhum problema com atividades sociais criadas em um grupo que compartilham ideias e propósitos espirituais em comum.  A interação em um grupo pode ser incrivelmente poderosa para transformar vidas e manter as tradições ricas. Contudo, uma coisa é trabalhar dentro das limitações e agendas de um grupo, outra coisa é se preparar para trabalhar como um ser espiritual capaz de realizar missões divinas sem alusão às afiliações religiosas e esotéricas de uma cultura e tradição particulares.

O objetivo desse e dos futuros ensaios que darão continuidade a este artigo é colocar o treinamento mágico num contexto maior. Eu penso em magia como uma forma de fazer as melhores escolhas na vida, a magia o coloca em contato com o que é original e com o que produz as maiores transformações. Magia genuína não é um atalho ou uma maneira de acelerar as coisas para que você consiga o que quer rapidamente, mas ocorre uma diminuição para que você acerte, em suas ações, na primeira tentativa.

Se o caso é que a magia põe em foco e esclarece as coisas mais importantes que deveríamos estar fazendo conosco, então surge a questão: até que ponto devemos fazer da magia uma parte das nossas vidas? Conheço algumas pessoas com grandes capacidades mágicas que, na minha opinião, não deveriam estar envolvidos com a magia. Para eles, este é um momento em que a tarefa é desenvolver suas personalidades e fazer parte dessa era especifica - qualquer contato com magia produz efeitos negativos. Neste contexto, a magia os atrai de volta aos modos de pensamentos e sentimentos que pertencem a outras épocas. A Magia se torna uma regressão e uma indulgência que acaba fazendo com que eles desperdicem suas vidas.


Já para algumas outras pessoas, a magia é exatamente a disciplina certa que mantém suas vidas em foco. É um desafio e uma emoção que eles não encontram em mais nada. Mas mesmo assim, se a excitação e a tentação são demais, a magia se torna uma femme fatal – destrói suas vidas. Como no caso do personagem de Shakespeare, Prospero em A Tempestade. Ele tem problemas que somente a magia pode resolver. Forje sua varinha, ou vontade, ou palavra de poder e resolva o problema, então, compreenda sabiamente suas próprias limitações, deixe de lado esse poder e volte a viver uma vida digna de ser vivida sem as tentações e preocupações estranhas de uma vocação mágica.

Vamos analisar alguns dos custos e dificuldades que podem surgir para aqueles que estão considerando a prática da magia como uma vocação ao longo da vida.

Problemas com o Equilíbrio Mágico

Se você estuda cuidadosamente e sabiamente, de modo a construir uma base sólida para a sua prática, é dito que você pode evitar sérios desequilíbrios. Vamos imaginar, por um momento, que isso é possível: com grande cuidado você desenvolve igualmente seus corpos físico, astral e mental. Você domina uma postura física, a respiração corporal (pelos poros) e o trabalho com a força vital. Desenvolve seu equilíbrio astral, equilibrando os quatro elementos no seu corpo astral, tanto como energia pura quanto como compreensão psicológica. E desenvolve igualmente seus cinco sentidos e concentração mental.

Ótimo. Mas um dia você começa a praticar um exercício e descobre que é como uma segunda natureza. É como se você já tivesse o praticado a vida inteira ou em muitas vidas distintas. É como respirar de tão fácil. E então começa outro exercício e passa trinta, quarenta anos de prática e você não faz absolutamente nenhum progresso. Ou em algum momento você realiza algum resultado, mas em outro momento todo o progresso parece desaparecer e é preciso começar de novo e de novo, e as razões para isso permanecem incompreensíveis.

Há pessoas que conseguem esvaziar a mente de todos os pensamentos por dez minutos na primeira vez que tentam, outros que podem acumular energia no corpo através da respiração e seus corpos se aquecem na primeira vez que eles tentam o exercício. E há outras pessoas para as quais esses exercícios básicos são quase impossíveis. Nada do que eles fazem parece ter resultado.
Seja como for, o que quero dizer é que, se você fizer uma prática séria, acabará encontrando áreas nas quais está muito avançado, às vezes até mesmo além de todos os professores que conhece. Esse nível incomum de habilidade em uma área – física, astral, mental ou espiritual – por sua própria existência, coloca grande tensão e estresse em outras áreas. Você pode se concentrar como um mestre? Então você também pode queimar sua força vital em poucos instantes, gerando uma séria doença física com esse poder de concentração.

Você descobre que tem habilidades psíquicas paranormais? Sua personalidade pode então tornar-se profundamente confusa devido a capacidade de perceber e sentir outras dimensões ou formas que não têm relação com sua experiência cotidiana ou com o mundo em que você vive. Você conhece maneiras de aumentar enormemente sua força vital e nível de saúde? Puxa, então você acaba como o grande iogue, Swami Rama, que em seu instituto jogava tênis o dia todo, desgastando vários parceiros porque ele tinha toda uma energia física para queimar. Ou, a Kundalini corre solta pelos seus chacras causando todos os tipos de perturbações emocionais e psíquicas. Esses são os problemas simples e diretos que ocorrem em seu corpo, mente e emoções, sem considerar a questão mais complicada de interagir como os espíritos.

O que a magia faz é que você se encontra confrontando essas questões não nos próximos trinta ou quarenta anos, mas nos próximos dois ou três anos. Pode ser um ótimo passeio. Você é viciado em drogas ou em álcool? Você fica deprimido, ansioso, distraído ou hiperativo? Existem todos os tipos de programas sociais para trabalhar com vários vícios e/ou obsessões. Talvez você tenha se desenvolvido um pouco rápido demais em seu treinamento, mas agora você decide desacelerar e fazer a lição de casa - equilibre sua personalidade e reforce as áreas frágeis de sua vida emocional.
Mas alguns desses problemas cármicos que você evocou em sua vida através do estudo da magia não possuem soluções dentro dessa era. Isso significa que nenhum psicólogo, padre, mago, curador psíquico ou xamã terão a menor ideia de como ajudá-lo. Ah, eles vão sugerir todo tipo de coisa e oferecer remédios que lhe deem alívio temporário. Mas o estudo da magia séria (do tipo que te coloca em contato com o poder criativo e divino) não é como Alice Bailey imagina em uma de suas imagens: você descobre em seu caminho que há muitos outros estudantes ao seu lado conforme você atravessa um lago espiritual quando a neblina se levanta pela manhã. Não, magia não é antiquada, calorosa e reconfortante.

Magia é um encontro original com o Akasha. É você – sua vontade, inspiração e recursos adquiridos através do treinamento e experiência – contra algo totalmente desconhecido. Quando você trabalha com o quinto elemento, o Akasha, você não está apenas aprimorando sua intuição e percepção. Você está em contato com todo o universo e tudo o que a raça humana fez e experimentou e tudo o que a raça humana ainda não imaginou, bem como coisas que nunca experimentará enquanto estiver em sua presente fase de evolução.

Eles não dizem isso para você – o universo é imensurável, e como raça humana, mal começamos a ler o prefácio do livro da sabedoria. Não importa o quão ritualizada, sistematizada, institucionalizada ou disposta em um guia passo a passo, a magia é sempre exploratória. Você está cruzando um limite, deixando para trás o mundo familiar e entrando no desconhecido.

MISTELE, William. Problems in the Study of Magic, Part I. 2003. Disponível em: <http://williammistele.com/problems1.htm>. Acesso em 10/05/2020.

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